Laboratório de Estudos Interseccionais da Linguagem e do Desenvolvimento Humano

Seção 1 – O que é ciência

 

 

Por tanto os cartões com palavras e imagens retiradas de revistas científicas e internet, nos dá a certeza que a aula pode transcorrer com alguma tranquilidade isso claro se não tivermos falta de luz, merenda, água, ou quem sabe algum tiroteio na comunidade que fica na parte de traz da escola, onde a maioria dos alunos residem. Muitos trabalham na construção civil, comércio forma e informal e em casas de moradores mais abastados da região oceânica de Niterói como ajudantes do lar e cuidadores de idosos a turma também é composta por alguns jovens e desempregados.
                Vamos ao meu diário de campo:
            Na aula, então, propus que a turma se dividisse em dois grupos e distribui fichas com palavras que poderiam ser relacionadas aos conceitos de senso comum, ciência e tecnologia, tais como: reflexão, dominação, observação, etc. Pedi que os grupos, após debate, que associassem as palavras aos conceitos de senso comum, ciência e tecnologia.
Os alunos debateram, então, sobre o papel da ciência no mundo atual, sobre o consumo sobre a poluição do ambiente, sobre a falta de assistência das políticas governamentais com os menos favorecidos.
Em seguida, foram apresentadas imagens que deveriam ser associadas aos conceitos de senso comum, ciência e tecnologia.
   Um aluno se revelou interessado em astronomia e este assunto também dominou os nossos debates, outro aluno debateu a capacidade que um político sobre as massas, outro falou sobre as pesquisas que são realizadas em laboratórios, mas que não atendem as necessidades de toda a população.
Num terceiro momento, eu trouxe à cena a palavra física, muitos alunos falaram da sua importância para a compreensão dos fenômenos da natureza no dia a dia, mas quando pensam na disciplina da sala de aula a reconhecem apenas como uma disciplina de difícil compreensão e com cálculos matemáticos difíceis de realizar.
E como essa proposta de aula foi possível discutir o conteúdo previsto: o que é ciência em diversos aspectos fundamentais para promover o letramento científico:
– desenvolvimento de conceitos que serão importantes para o próximo conteúdo e que são conceitos da física;
– desenvolvimento da ideia de que não existe neutralidade científica, de que há questões sociais que definem o desenvolvimento da ciência;
– desenvolvimento da dificuldade de entender a física a partir da linguagem matemática, da abstração.
   Praticamente todos os alunos participaram das discussões alunos novos e velhos interagiram trocando pensamentos e experiências, coube ao professor apenas dialogar e intervir em alguns momentos das discussões, desenvolvendo o processo da mediação. Nesse momento os cartões com palavras serviram para mostrar para o professor o que os alunos já traziam de conhecimento prévio. Era um momento de conhecimento entre professor e aluno eu queria apenas saber como eles estavam pensando sobre determinados assuntos que seriam abordados, e o que eles possuíam como imagens e conceitos de senso comum mesmo sobre determinados assuntos que seriam abordados nos conteúdos que seriam trabalhados na sala de aula. Os alunos identificaram as imagens onde se encontravam pesquisas de campo e as relacionadas e as que eram realizadas em laboratórios. O aluno X falou no meio do grupo, questionou o fato de as pesquisas, principalmente os avanços tecnológicos relacionados a saúde não serem de fácil acesso para todos. Ele questionou ainda a falta de igualdade em relação a assistência hospitalar dada para todas as pessoas. Ainda no mesmo grupo da sala escura um outro aluno questionou as promessas realizadas por políticos em ano de eleição que prometem esperanças e depois de serem eleitos desaparecem. Um aluno fez o seguinte relato “lá na favela político só aparece quando quer voto mente engana agente e depois desaparece, promete remédios, eles dizem gostar da gente, mas na verdade ele só quer o nosso voto”. Um outro aluno também falou sobre o fato da ciência hoje no mundo atual produzir uma grande quantidade de remédios e que em vários casos tomamos sem ter o conhecimento da sua eficácia e dos seus efeitos colaterais, por um instante interferi e perguntei e então a ciência e neutra nas nossas vidas? Muitos responderam que não eles reconhecem que muito do que a ciência e tecnologia produz facilita e melhora a qualidade de vida. Mas que por causa dela e das pessoas que buscam obter mais e mais conhecimento como forma de dominação sobre a tecnologia como forma de dominação também de pessoas, acabam provocando um marketing do consumo desenfreado que acaba gerando mortes e conflitos.
   Procurei mostrar também imagens de Galileu, Newton e do Universo aqui também tivemos discussões interessantes pois o professor relatou o fato da igreja católica defender o geocentrismo como muito poder entre só séculos III e IV a ideia era mostrar para os alunos o fato das ciências não estarem prontas e acabadas e o quanto que um pensamento sobre um determinado objeto de estudo demora para ser modificado e como certas opiniões e conceitos demoram para serem mudados além de tentar mostrar para eles que em alguns momentos da história as ciências da natureza prestam um serviço para alguém. Perguntei e quanto aos pesquisadores, o que vocês acham eles prestam serviços para alguém? É nesse momento que o nosso aluno Belo começa a fazer perguntas sobre o universo e demonstra conhecimento sobre a teoria do Big Bang e o afastamento das Galáxias e fala sobre Galileu e o seu relacionamento conturbado com a igreja católica. Procurei deixar claro para os alunos que não estávamos discutindo religião, mas um determinado pensamento dominante de uma época e o quanto ele pode ser modificado com a evolução dos pensamentos acerca de um determinado conhecimento.
   Foi nesse momento que ficou mais fácil ir puxando o assunto para a ciência física, pois com assuntos abordados e discutidos pude falar com eles, sobre a força da gravidade, que é a força exercida entre os corpos atrativa e que esta foi a grande ideia de Newton perceber que todos os corpos se atraem com uma força diretamente proporcional as suas massas e inversamente proporcional o quadrado da distância que os separa, pude falar em velocidade, pois eu perguntei para eles: “é verdade que quando olhamos para o céu estamos vendo estrelas que não existem mais?” Alguns falaram que sim pelas grandes distâncias que estamos separados destas, outros apenas se silenciaram.O aluno Belo falou sobre as grandes distâncias que estamos das estrelas e eu complementei estamos a bilhões de anos luz de algumas estrelas e as distâncias que teríamos que perco[1]rrer para chegarmos até uma delas seria enorme e que para quantificarmos essas grandes medidas a comunidade científica escreve essas medidas em notação científica.
   Foi justamente nessa hora que as dificuldades dos alunos começaram a surgir em grandes quantidades, eu coloquei uma conta simples para fazer uma conversão de Anos-Luz para quilômetros e muitos se assustaram, simplesmente travaram, e este talvez seja um dos grandes desafios de nós professores como fazer os alunos compreenderem que as ciências da natureza podem ser traduzidas em linguagem matemática. Esse é um dos problemas graves, pois os acontecimentos e fenômenos relacionados a natureza não são traduzidas para esses alunos em linguagem matemática, ela não investigativa ela é apenas apresentada de forma pronta e acabada a, e por isso talvez a abstração matemática não faça parte da vida deles, pelo simples fato de não ser apresentada de forma dialógica com o mundo concreto no qual o aluno está inserido. É nessa parte que precisamos repensar o nosso que fazer em relação a matemática, pois precisamos buscar uma maneira de fazer a linguagem matemática ser praticada na vida diária desses alunos, precisamos mostrar para os nossos alunos que a matemática possui uma história na construção dos seus conhecimentos. Talvez se a linguagem matemática for traduzida para esses alunos de maneira que dialogue com o mundo no qual o aluno está inserido o leve se apropria desse saber e os leve a compreender a linguagem do mundo acadêmico.

 

[1] Belo nome fictício dado ao aluno do NEJA 2

 

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