Laboratório de Estudos Interseccionais da Linguagem e do Desenvolvimento Humano

Fundamentação Teórico-Metodológica

 

 

Laboratório de Memória Ambiental e Ciências do C.E. Nilo Peçanha

 

           Este site é o produto final da Dissertação de Mestrado REBELLO, S.B.  Experimentos de Física para a abordagem do tema gerador energia e suas transformações: contribuições da psicologia histórico-cultural. Dissertação de Mestrado. Programa Stricto Sensu em Ensino de Ciências da Natureza/UFF. Niterói, RJ. Abril de 2016.
           O objetivo deste site não é a simples apresentação de experimentos, mas é a discussão de uma metodologia, fundamentada na psicologia histórico-cultural de Vigotski, que promova a interação entre as concepções prévias dos alunos e a concepção científica.
           Esta fundamentação metodológica é importante por que durante décadas a área de ensino de ciências apresentou outra abordagem para o processo de aprendizagem científica, uma delas, a mais influente, foi a que, baseada na teoria piagetiana, entendia que a concepção do aluno deveria ser combatida para que a aprendizagem do conceito científico acontecesse.
           A psicologia histórico-cultural, que fundamenta o projeto apresentado, expõe outra perspectiva para o vínculo entre as concepções prévias dos alunos e a concepção científica. Vigotski, psicólogo russo e principal autor da psicologia histórico-cultural, afirma que concepção prévia e conteúdo cientifico não são pares de opostos, mas complementares. Na escola, um conceito simples constituído nas relações do dia a dia se torna mais complexo, ou seja, vamos de um conceito particular para um conhecimento generalizante. Na perspectiva vigotskiana, a Generalização da Ciência não é oposta à Contextualização, ou seja, à concretude, mas estes são pares que só se constituem em relação dialética. O conceito de Contextualização quando fundamentado na obra de Vigotski significa permitir a elaboração de uma forma cada vez mais complexa do particular. Particular (pensamento sincrético, imaginação, concepção prévia) que não é obstáculo ao conhecimento, mas está em permanente relação com o conhecimento generalizante (conceito supra-ordenado) e é isso que permite a Generalização tão cara para o desenvolvimento de uma concepção científica. Logo, tal como afirma Vigotski, a consciência reflexiva chega à criança através dos conhecimentos científicos e depois se transfere aos conceitos espontâneos. Com a palavra, Vigotski:
                 “O seguinte exemplo pode ilustrar a função de diferentes graus de generalidade no aparecimento de um sistema. Uma criança aprende a palavra flor, e logo depois a palavra rosa: durante muito tempo o conceito “flor”, embora de aplicação mais ampla do que “rosa”, não pode ser considerado o mais geral para a criança. Não inclui e nem subordina a si a palavra “rosa” – os dois são intercambiáveis e justapostos. Quando “flor” se generaliza, a relação entre “flor” e “rosa”, assim como flor e outros conceitos subordinados, também se modifica na mente da criança. Um sistema está se configurando” (VIGOTSKI, 2003, p. 116).
            Para melhor entender esta discussão, sugerimos a seguinte leitura:
            VIGOTSKI, L. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
            Sendo assim, é importante contextualizar os experimentos em sala de aula, não com a simples finalidade de ilustração, mas como condição para a construção do conceito científico.
            O Lamac-Nilo propõe a contextualização a partir da memória socioambiental, que pode ser definida como a interpretação das populações acerca do lugar em que vivem. A ideia é entender como as pessoas vêem os lugares, a realidade concreta. No caso especifico do projeto do LAMAC-NILO, o objetivo é entender  como os alunos percebem a realidade do entorno da escola.
            Esta prática que associa memória e aprendizagem também está fundamentada na psicologia histórico-cultural de Vigotski, pois, para o autor, a memória cultural permite que o sujeito internalize as condições objetivas da vida em sociedade e, ao mesmo tempo, se constitua como sujeito social. A memória é, portanto, condição para a formação de conhecimento. No entanto, não é a memória da simples repetição, mas a memória da criação. O uso da memória é para que, através das análises dos fatos seja possível, seja possível construir o novo.
            Assim, a memória no processo de construção do conhecimento permite a internalização dos conteúdos desenvolvidos socialmente (memória coletiva/saber generalizado), mas a partir das singularidades da nossa história de vida (memória individual/saber do dia-a-dia). SIRGADO, A.P. O Social e o Cultural na Obra de Vigotski. Educação & Sociedade, ano XXI, no 71, Julho/00
            Além da memória, evidenciamos a atividade produtiva, que é quando o domínio da técnica promove transformação qualitativa no desenvolvimento do sujeito. Vejamos o que diz Vgotski: “Se quando eram menores a superação das dificuldades técnicas arrefecia e freava seus ímpetos de criadores, agora é o contrário: determinadas limitações, dificuldades técnicas, necessidade de utilizar sua capacidade de representar em determinados limites elevam sua atividade laboral criativa (…)” (VIGOTSKI, 2010, p. 118). Daí a importância de que o experimento não seja apenas para ser visto, mas, sobretudo, para ser manipulado.
            As considerações de Vigotski sobre a arte e a técnica se mostram ainda inspiradoras. Ele fala das condições da época e projeto o futuro. Quase cem anos depois, vivenciamos determinadas condições de vida, de conhecimento e desenvolvimento da tecnologia que viabilizam novas formas de objetivação da experiência. Criamos novas linguagens e aprendemos novos modos de dizer. Experienciamos as mais diversas possibilidades da imagem em ação e somos intensamente afetados por elas (SMOLKA, 2010, p. 122).
            Para melhor entender esta discussão, sugerimos as seguintes leituras:
            SMOLKA, A.L. Comentários. IN: VIGOTSKI, L. Imaginação e Criação na Infância. São Paulo: Ática, 2010.
            VIGOTSKI, L. S. Imaginação e Criação na Infância. São Paulo: Ática, 2010.
            A Arte nesta abordagem ganha esse sentido – atividade produtiva, que ajuda a mediar o desenvolvimento de diversas possibilidades que não estão dadas nas realidades concretas.
            A Escrita é parte fundamental de uma proposta fundamentada na psicologia histórico cultural de Vigotski, pois é um tipo tão sofisticado de sistematização, que ajuda a desenvolver o pensamento abstrato, o que pode favorecer a aprendizagem científica.
            O aprendizado da linguagem escrita representa um novo e considerável salto no desenvolvimento da pessoa […] o domínio desse sistema complexo de signos fornece novo instrumento de pensamento (na medida em que aumenta a capacidade de memória, registro de informações etc), propicia diferentes formas de organizar a ação permite um outro tipo de acesso ao patrimônio da cultura humana […] promove modos diferentes e ainda mais abstratos de pensar, de se relacionar com as pessoas e com o conhecimento (REGO, 2014, p. 68).
             Para melhor entender esta discussão, sugerimos a seguinte leitura:
             REGO, T. C. VYGOTSKY: Uma perspectiva histórico-cultural da educação. 25. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
             Esta proposta se justifica por que ainda hoje temos práticas em laboratórios desvinculados de uma abordagem teórico-epistemológica que fundamenta a formação do conceito científico. Afirmamos que as práticas de ensino desenvolvidas nos laboratórios não devem ser meras ilustrações, mas devem ser fundamentadas para promover metodologias que possibilitem a relação entre as concepções prévias que o aluno traz e as concepções científicas.
             Ao se trabalhar com um tema gerador promovemos a interdisciplinaridade,pois os conteúdos podem ser tratados por diversas áreas do conhecimento que os envolvem, possibilitando com isso um ensino contextualizado através das discussões, reflexões e interpretações da realidade na qual o indivíduo está inserido.
             A aprendizagem, nesta perspectiva, é um movimento dialógico, em que professor e aluno passam a ser construtores do conhecimento e onde se desenvolvem autonomia e senso crítico.
             Para tanto, temos passos importantes. Mas, lembrem-se, são apenas sugestões, que devem ser adaptadas à realidade de cada escola, de cada sala de aula, de cada laboratório. O importante é a manutenção da abordagem histórico-cultural, na qual o conceito científico a ser ensinado precisa ser contextualizado a partir das concepções prévias dos alunos. A nossa aposta é que a memória, a arte, a atividade prática e a escrita são fundamentais. Vejamos os passos:
  1. Investigação temática – escolha de um tema gerador acerca do entorno da escola, que suscite a recuperação da memória socioambental;
  2. Escolha de uma linguagem artística (cinema, fotografia, pintura, entre outras):
  3. Escolha de uma forma de atividade prática;
  4. Escolha de uma forma de expressão escrita.
  5. Aproximação dos temas gerados nessas atividades do conteúdo a ser elaborado no ensino de ciências.
            Feito isso, mãos à obra, os experimentos podem ser os mais diversos possíveis! Estaremos sempre aqui sugerindo experimentos e contando as formas em que estamos desenvolvendo os passos acima propostos!

 

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