Laboratório de Estudos Interseccionais da Linguagem e do Desenvolvimento Humano

PERSPECTIVA ÉTICO-POLÍTICO-ESTÉTICA

 

 

   Neste item configura-se a abordagem epistemológica da proposta que se configura no conceito de subjetividade histórica (estética), nas formas de relação (ética) e na transformação dos espaços (política). A proposta anuncia o entrelaçamento dessa tríade.
Uma discussão presente na área de Ensino de Física é a ideia de que as aulas de física são “sem significado” (RIBEIRO e KAWAMURA, s/d), tanto para o aluno quanto para o professor. Em relação ao docente, muitas vezes ele apenas reproduz o conteúdo dos livros didáticos, o que pode caracterizar a falta domínio do conteúdo ensinado. Ou, mesmo quando há este domínio, o professor, tomado por uma prática empirista, não aproxima o conteúdo das questões do dia-a-dia do aluno. Isto torna o conteúdo “sem significado” para alunos e professores.
   Precisamos, no Ensino de Física, abordar os conteúdos de uma maneira que permita o aluno a pensar o mundo moderno com suas várias tecnologias e possibilidades, e que, independentemente de saber usar fórmulas somente no espaço escolar, seja capaz de responder a uma situação ou uma questão que lhe é imposta pelo cotidiano. Para muitos autores, dentre eles está Paulo Freire (2003), é isso que significa aprendizagem.
   Tomando esta questão, acerca do Ensino de Física, em um cenário específico, na Nova Educação de Jovens e Adultos (NEJA), podemos identificar problemas próprios deste segmento.Para muitos, fica clara a dificuldade de aprendizagem de um aluno que está há muito tempo afastado da escola, quando comparado com um aluno mais jovem e que tem uma vivência contínua nessa instituição. No entanto, nos aproximamos de autores (SAMPAIO, 2009), que identificam que o problema está na forma como as práticas escolares lidam com o sujeito que está ‘fora’ da idade escolar.
   A falta de contextualização faz com que os conteúdos apresentados em sala de aula não estejam vinculados aos conhecimentos prévios dos alunos, pois não estão relacionados com a vida deles nem pelo lado profissional, nem pelo dia a dia. Temos, neste trabalho, a perspectiva de que é possível construir outras formas de abordagens dos conteúdos, a partir da contextualização, que deem conta dessas especificidades citadas acima na NEJA.
   Entendemos que é preciso definir os processos fundamentais para que esta contextualização aconteça para além da simples ilustração, a fim de “(…) recuperar o lugar daquele que aprende, compreendendo-o como sujeito histórico (…)” (OLIVEIRA et al, 2015, p.33).  Isto significa que o ensino não deve estar desvinculado da realidade daquele que aprende. Por exemplo, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), não é possível ensinar tal como o fazemos com uma criança, pois “na medida em que o sujeito interage com os membros mais maduros da sua cultura, aprende a usar a linguagem como instrumento do pensamento e como meio de comunicação e internaliza conceitos, informações” (OLIVEIRA et al, 2015, p.33). Existe, assim, a necessidade de se fazer estudos especificamente sobre a EJA, pois não ensinamos a um adulto tal como ensinamos uma criança (KRUMMENAUER ET AL, 2010).
   Esta discussão nos remete à questão da relação entre o conceito cotidiano e a concepção científica apresentada pela escola. Para muitos, há a necessidade de romper com a concepção dos alunos em prol da concepção científica. Isso acontece porque a lógica que fomenta esta discussão é a de que há uma divisão entre o sujeito e a realidade, isto é, no caso do ensino de ciências, uma separação entre o sujeito e sua concepção sobre o mundo e o próprio mundo, os conceitos culturalmente construídos, dentre eles, os conceitos científicos. Esta é a marca da dicotomia entre o subjetivismo e o objetívismo com a qual Freire rompe:
Subjetivismo ou objetivismo mecanicista, ambos antidialéticos, incapazes, por isso mesmo, de aprender a permanente tensão entre a consciência e o mundo. Na verdade, só numa perspectiva dialética podemos entender o papel da consciência na história desvencilhada de qualquer distorção que ora exacerba sua importância, ora a anula ou a nega. Nesse sentido, a visão dialética nos indica a necessidade de recusar, como falsa, por exemplo, a compreensão da consciência como puro reflexo da objetividade material, mas, ao mesmo tempo, a necessidade de rejeitar também o entendimento da consciência que lhe confere um poder determinante sobre a realidade concreta (FREIRE, 2003, p. 100).
   Tomando a perspectiva freiriana para pensar o ensino de física na dialogia entre o aluno, suas concepções e os conceitos científicos, entendemos que é preciso operar, em sala de aula, a dialética. Assim, será feita uma aproximação entre o conceito de contextualização e o método freireano. Paulo Freire (2003) é um autor que permite pensar a proposta da significação, da contextualização em sala de aula, ainda mais quando se trata da NEJA, forma de educação muito discutida e praticada pelo mesmo.
    A educação deve existir como um ato político, capaz de libertar o sujeito da ingenuidade, dos fatalismos sociais em que vivem, da falta de esperança, de fazer o homem entender que ele possui historicidade. Isso permite que o sujeito mude o meio em que vive, se reconhecendo como um ser “inacabado e inconcluso”. É a dialogia entre educadores e educandos, que traz histórias de vida – singularidades – que darão sentido às teorias. Só assim os homens superam as amarras do senso comum, despertam para o mundo concreto e dão sentido às abstrações do saber oficial (FREIRE, 1986).
O educador não deve ter a ilusão de que sua prática é neutra, ela é sempre política, pois a relação entre competência técnica e ética garante que o ato de ensinar não é respaldado apenas por boas metodologias, em que os fatalismos sociais é que definem quem pode ou não aprender. O ato de ensinar é também aprendizagem, pois o educador que luta por suas próprias melhorias (técnica e ética) pode mediar o aluno a também reconhecer o meio em que vive e em que contexto histórico político e social ele está inserido e a constituir aprendizagem de conteúdos específicos. Esta relação entre competência técnica e ética é dialética, uma depende da outra.
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